segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Gratificante

Trabalhar na agência que regula o cinema no Brasil deve ser muito gratificante.

A rotina inclui aprovar grana pública para os filmes da Xuxa, carimbar o incentivo fiscal de clássicos como "Tronco" (o filme mais caro do Brasil, que custou proporcionalmente R$ 2.500 para cada um dos mil espectadores que teve) e apoiar festivais-boca-livre em Miami e outros cantos do mundo para um elenco estrelado de atores globais.

O salário também não é nada mau. Vejam só esta notícia do O Globo:

    Vai até o dia 21 de dezembro o período de inscrição para o concurso do Agência Nacional do Cinema (Ancine), que será realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O órgão federal vai preencher 30 vagas para o cargo de Especialista em Regulação da Atividade Cinematográfica e Audiovisual, que exige nível superior em qualquer área, e 25 postos para Analista Administrativo, com vagas divididas para bacharéis em Biblioteconomia, Ciências Contábeis, Ciências Exatas ou Tecnológicas, além também de qualquer área de formação. Todas as vagas se destinam à cidade do Rio de Janeiro e o vencimento básico será de R$ 3.700, que, com as gratificações, chega a um inicial de R$ 9.552.

De fato, poucos cargos do serviço público gratificam tanto. Na Polícia Federal, por exemplo, os agentes reclamam que o governo não paga horas extras e não dá recursos pra obras vitais para o combate ao crime organizado. Quando eu estudei numa universidade federal, também, vira e mexe havia greves por conta dos salários dos professores.

Deve ser um jeito de mostrar que o governo prioriza a cultura, certamente.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sério, o "tronco" teve mil espectadores? Devem ter feito um esforço danado para conseguir só isso.

Marcelo disse...

O número consta do banco de dados da Ancine. Mas já ouvi gente dizer que esses números de público na verdade são inventados, por falta de controle real. (Só que geralmente são inventados pra cima.) De fato, exatos mil é muito redondo, e há vários outros filmes com públicos redondos.

Sempre que uso esse banco de dados em sala de aula, pergunto se alguém viu o filme. Só uma vez um levantou a mão. Disse que foi levado pela escola. Mas não lembrava de nada do filme, além do título.

Sem Papel e Tinta disse...

Eitá país de bananeira e macaco!

Anônimo disse...

o salário chega a mais de 9 mil graças a uma gratificação de 5 mil. Mas, se você ler o Edital, verá que as questões paradoxais não ficam apenas no salário. As exigências para os dois cargos, analista e assessor, requerem conhecimentos de lógica avançada, filosofia da linguagem e teoria do conhecimento. Quem elaborou o edital não apenas quer um filósofo como um ótimo filósofo e também deve ser da área. É dificílimo alguém estudar aqueles conteúdos assim, em questão de meses: é uma preparação de vida inteira por que quer e gosta e não para um concurso. Enfim, não é para quaquer um.

Marcelo disse...

Hm. É isso que eu costumo adorar em licitações.