quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Oba, ninguém segura o Brasil!


Esta o Shikida vai adorar. Leia este título da Agência Brasil, agência de notícias oficial do governo brasileiro:


A comparação, veja só, é com os sistemas de saúde europeus.

Quando li, lembrei das madrugadas que passei com parentes aguardando atendimento no Hospital Conceição, em Porto Alegre. E lembrei do indefectível Buscopan que receitavam às 4 da manhã para qualquer problema, fosse arritmia cardíaca ou infecção urinária. Lembrei dos fios expostos (antes de uma reforma que fizeram por lá). Será que é isso mesmo?

Vamos às aspas que embasam o título, todas elas sinuosas:

    “Os resultados não são totalmente desfavoráveis ao Brasil”

    “O desempenho relativo do sistema de saúde do Brasil ante os países da OCDE não é ruim em termos de custo-efetividade. Como o Brasil está longe de atingir uma estabilidade dos gastos, da estrutura e do desempenho do seu sistema de saúde, tendemos a não rejeitar a aceitação de um desempenho mais favorável ao sistema de saúde brasileiro”

Isso é longe de ser mais eficiente do que os sistemas de saúde da Europa, não? No parágrafo 12...

    Segundo ele, “nós não estamos de maneira nenhuma afirmando a excelência dos serviços de saúde do Brasil”. Mas admite que há um “enorme oportunidade de melhoria do sistema”. Em sua avaliação, “o dinheiro bem aplicado em saúde no Brasil tem excelente investimento social face aos resultados que podem ser obtidos em outros países”.

Aparentemente, o estudo quer dizer que, se o Brasil aplicar bem o dinheiro da saúde, será um excelente investimento social (uaaau).

A matéria não traz o link para o estudo completo. Mas aí você vai ao site do Ipea e pega primeiro o release original. Ele esclarece a incompreensão:

    Os pesquisadores constataram que "investir em saúde no Brasil tem retorno melhor que na maior parte dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). "Para cada 1% de gasto a mais, investido na saúde, em termos per capita, o brasileiro ganha, aproximadamente, cinco anos de vida", diz a pesquisa.

Traduzindo: no Brasil, cada pouquinho que se investe a mais em saúde traz um benefício maior do que o de um pouquinho comparável de investimento num país rico. Mas isso significa que a situação é muito boa ou muito ruim?

Só lendo o estudo completo (baixe-o aqui). Na primeira página, ele esclarece o que o estudo pretende medir:

    No presente trabalho realizamos avaliações de eficiência que procuram inferir em
    que medida o investimento em termos monetários, no sistema de saúde do Brasil,
    comparado com os sistemas de saúde dos países da Organização para a Cooperação e
    Desenvolvimento Econômico (OCDE),1 seria eficiente em maximizar indicadores
    relacionados ao desempenho desses sistemas.

Traduzindo: o que eles querem ver não é se o gasto atual do Brasil com saúde é eficiente, no sentido de alocação de recursos. O que eles querem ver é o quanto melhoraria a saúde com mais gastos. E melhoraria muito mais do que na Europa se gastasse mais.

Aí, quer-me parecer que a Agência Brasil enganou seus leitores. Mas o leitor que foi por ela, a estas alturas, já deve ter pendurado a bandeira do Brasil na janela e soltado rojões.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Ipea perdeu a seriedade desde que foi aparelhado pelo governo. Virou fabricante de propaganda oficial