A SPTrans, onde este blog tem leitores fiéis, desligou a telinha fictícia dos corredores, que prevê horários inexistentes para a chegada dos ônibus. E olha que meu post a respeito, criticando a situação, sequer foi parar no clipping deles.
Pessoalmente, eu acho a telinha uma idéia genial. Muito boa mesmo. Mas, do jeito como está, em que ou não funciona ou funciona de maneira picareta, ela é um desperdício de dinheiro e de paciência.
Mestre Telmo Flor gosta de contar uma piada sobre quando viajou de trem pela Europa. Na Alemanha, o alto-falante interno dizia "senhoras e senhores, em 2 minutos e 25 segundos estaremos chegando a Berlim". Era verdade. Na França, era "senhoras e senhores, em cerca de 2 minutos estaremos em Paris". Era verdade. Na Itália, era "senhoras e senhores, a qualquer momento chegaremos a Roma". Era verdade.
Previsibilidade é um fator importante pra confiar no transporte público. Não existe coisa mais chata que ficar preso na parada de ônibus esperando.
Em Londres, o sistema de transporte público dá muita informação aos usuários. As paradas de ônibus têm os horários exatos em que os ônibus passam. E eles cumprem os horários. As de metrô têm uma telinha informando quantos segundos falta pra chegar o trem. E, se algum imbecil inventa de correr pelos trilhos, o motorista pára o trem e informa o motivo aos passageiros pelo sistema de alto-falantes, pedindo mil desculpas pelo atraso. Há um sistema de bilhete único (Oyster), em que você paga pela quantidade de dias e pela região em que vai usar o sistema de transporte - e a partir disso pode pegar quantas conduções quiser. E eu tenho até hoje muito material impresso informando horários, linhas e rotas, distribuído gratuitamente pela empresa de transporte britânica.
A BBC distribuiu há poucos dias um podcast sobre a necessidade humana de se movimentar. Eles entrevistaram especialistas em mobilidade ingleses. Segundo eles, distribuir tanta informação é uma forma de convencer o usuário do sistema a deixar o carro em casa.
Traduzo aqui duas das sonoras desse programa. A primeira é de Martin Prince, diretor do Centro de Saúde Mental Pública do Instituto de Psiquiatria do King's College. Sim, transporte público tem a ver com saúde mental:
- "Creio que outro mecanismo importante tem a ver com o comando, no sentido de que você tem controle sobre sua agenda, sobre seus planos, sobre como você gostaria de gastar seu dia, as pessoas que gostaria de ver.
A segunda é de Frank Kelly, mestre em matemática do Christ's College, de Cambridge, ex-consultor científico do Departamento de Transporte britânico e autor de estudos interessantes sobre o uso de dados pra planejar o transporte:
- A incerteza tem um custo, e um bom exemplo disso é olhar o comportamento das pessoas quando pegam ônibus. Se você vai a uma parada de ônibus e não sabe direito quando ele vai passar, então a incerteza sobre isso impede você de sair pra comprar um jornal, e você fica nervoso pra saber se o ônibus vem ou não vem. Se existe informação em tempo real para você saber que o ônibus chegará em sete minutos, seis minutos, cinco minutos, então você pode sair pra comprar alguma coisa e não fica na incerteza.
Por enquanto, o que temos é uma telinha desligada, sucessões de recordes de tranqueira e subprime dos carros.
Um comentário:
A falta de previsibilidade já me fez ser atropelado e quebrar um tornozelo - na época do colégio, voltando da escola, vi que o ônibus que sempre demorava para passar estava chegando, e acabei atravessando a rua de forma descuidada.
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