Se você pega ônibus em São Paulo, nos corredores de ônibus, deve ter visto com curiosidade a telinha da SPTrans que mostra quantos minutos faltam para chegar os ônibus que passam por ali.
Se você já parou para olhar essa telinha, deve ter chegado à mesma perplexidade do Aylons:
- Instalada nos mais importantes pontos de ônibus da cidade, isso daí deveria informar quando chegam os ônibus… porém, nunca funciona.
Pois é. Não funciona. É bastante provável que os dados ali mostrados sejam fictícios, só pra constar que funciona. Mas a coisa é bem mais complicada.
Aquela telinha nunca funcionou. Passou muito tempo desligada. Só recentemente começou a ser ligada no corredor aqui da esquina, mas eu nunca vi as obras necessárias no corredor pra que ela funcionasse. Porque isso depende de obra.
Uma vez, há uns 4 anos, participei de uma entrevista com o ex-secretário de transportes, Frederico Bussinger, e perguntei a respeito desse ponto da telinha inoperante. Na época, ele disse que o maior problema para que esse sistema funcionasse era o fato de que a obra foi feita sem instalar os sensores, que ficariam sob o asfalto em diversos pontos do corredor.
O material já foi comprado, e saiu caro, mas por conta de erros na obra nunca havia sido posto para funcionar. Isso seria corrigido um dia, segundo ele. Só que pra isso seria necessário mexer no asfaltamento dos corredores pra colocar os sensores lá, em vários pontos, para o sistema poder mostrar nas telas quais ônibus estão mais perto.
Eu moro a meia quadra de um corredor de ônibus, e olho para lá todo dia pela janela. Nunca vi essas obras. Já vi operações pontuais no asfalto, mas nada aparentemente mais complexo que isso.
A telinha fictícia fica bem na foto, mas irrita quem de fato precisa dela. Geralmente, é quem está nervoso esperando o ônibus pra ir a um compromisso. Mas a questão é que, para os gestores públicos brasileiros, o que importa mais é a foto, não a função.
(A tela que funciona, essa sim, é aquela que passa pegadinhas genéricas em algumas linhas de ônibus, com o fim de atrair anúncios um dia. Um saco.)
E sabe o que a telinha fictícia me lembra também? Daquele estudo divulgado há pouco tempo dizendo que 86% dos usuários de ônibus em São Paulo não querem ar condicionado em suas viagens. Também me lembrou da decisão de manter a frota envelhecida, pra agradar os empresários de ônibus. Aí, num domingo de sol malvado como hoje, o passageiro pode exercitar o radical esporte de equilibrar-se num ônibus, aos solavancos, num calor intenso.
E você, que pensava que a política não interferia na sua vida, hein?
Com a crise financeira, os grandes banqueiros do mundo passaram a ter que usar "transporte público" em suas viagens - no caso, trens e vôos comerciais, ao invés dos jatinhos particulares de agora há pouco. Tudo, segundo o Financial Times, pra escapar do carimbo de "vergonha" dos US$ 18 bilhões distribuídos em bônus aos banqueiros num cenário em que eles falharam e todo mundo está se quebrando.
A idéia é ótima e poderia ser replicada em uma escala menor.
O prefeito, o governador, os vereadores e os deputados estaduais poderiam fazer o nobre esforço de ir para o trabalho de transporte público, de vez em quando. Nem que fosse por uma só semana, para fumarem um pouco da droga que vendem aos cidadãos.
Não seria uma coisa inédita: o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, prometia ir para o trabalho de metrô. Gosta de ser fotografado fazendo isso, muito embora o New York Times conte que ele na verdade anda 22 quadras de camionete antes de entrar na estação.
De qualquer forma, Bloomberg anda muito mais de metrô do que sua contraparte paulistana, Gilberto Kassab, que só entra lá em época de campanha. No ônibus, então, que é muito mais da alçada dele, nem pensar...
3 comentários:
Peraí?
Que pesquisa é essa?
Com o perdão da palavra, NEM FERRANDO. Duvido que quem passa calor todo santo dia não ia votar a favor do ar condicionado. Eu não acredito nessa pesquisa, não mesmo.
A da Consolação com a Paulista já funcionou por um tempo e algumas vezes pra mim marcou o tempo praticamente perfeito da chegada do ônibus. Mas, é claro, agora está quebrada.
Justiça seja feita: quando era prefeito de Porto Alegre, Olívio Dutra ia de ônibus para a prefeitura.
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