A Folha de S.Paulo publica neste domingo um interessante pacote de reportagens sobre a estrutura do negócio da pirataria de CDs e DVDs em São Paulo - mesmo assunto do post "Onde Chega o DVD Pirata", deste blog, e do artigo "Pega Um, Pega Geral", que escrevi para o Correio do Povo, de Porto Alegre. É improvável que elas tenham lido o blog ou o artigo, mas o assunto estava caindo de maduro.
As repórteres Cláudia Rolli e Fátima Fernandes foram às ruas da 25 de Março, meca da camelotagem em São Paulo, e entrevistaram estudiosos do assunto. O material ficou acima da média da edição, e arrisco dizer que ficou melhor até do que a rara entrevista com o presidente Lula. O link para as matérias está no pé deste post.
Eu faria apenas três reparos ao pacote:
1) Embora tenha o mérito de mostrar que há vários esquemas paralelos, não chegou exatamente mostrar a espinha dorsal da estrutura de pirataria ligada ao crime organizado. O comandante do esquema teria apenas seu apelido conhecido pela polícia, a confiar na matéria. Mas as autoridades devem saber pelo menos em que outros negócios ele está envolvido. Ou não? Um pouco mais de tempo de apuração daria essa perspectiva.
2) Exceto a declaração anotada do secretário-executivo do Ministério da Justiça, em nenhum outro momento a reportagem menciona a corrupção de agentes públicos - seja de policiais que fazem vistas grossas ao material vendido nas ruas, seja de fiscais que não enxergam o equipamento e insumos chegando. Aliás, em muita informação importante as repórteres anotam declarações mas não mostram casos concretos. Um pouco mais de tempo de apuração daria essa perspectiva.
3) Na matéria sobre as propostas para mitigar o problema, aceitou apenas o argumento de que "é preciso que o consumidor se conscientize". Sim, é preciso. Mas é preciso que ele se conscientize sobre várias outras coisas também. A necessidade de conscientização não é exatamente uma medida eficaz, porque apenas transfere o problema. Que medidas concretas as autoridades deveriam tomar e não tomam? Um pouco mais de tempo de apuração daria essa perspectiva.
Abaixo, as reportagens:
Grandes máfias alimentam a pirataria de filmes e CDs
Polícia de SP tem suspeito de comandar a pirataria
Conscientização é saída contra crime, dizem especialistas
domingo, 14 de outubro de 2007
Caindo de maduro
Postado por Marcelo às 17:42
Marcadores: economia subterrânea, o melhor do jornalismo, sociedade do espetáculo
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