sexta-feira, 19 de outubro de 2007

"O Poderoso Chefão" e a pirataria

Acabei há pouco de ler o livro "O Poderoso Chefão", de Mario Puzo. Ele dá perspectiva e aprofundamento ao que é mostrado no filme. Nos últimos dois finais de semana, minha diversão foi acompanhar no DVD as cenas que tinha lido durante a semana no livro.

Puzo fez uma pesquisa razoável para fazer o livro. Em "Honor Thy Father", Gay Talese conta a história de mafiosos da vida real - da família Bonanno, existente ainda hoje - e relata como eles reagiram quando o livro de Puzo foi lançado:

    Ele [Bill Bonanno, filho do mafioso Joe Bonanno] tinha ficado acordado metade da noite lendo um livro que trazia nas mãos, um romance sobre a máfia chamado "O Poderoso Chefão". Estava lido até a metade, e até aquele ponto ele havia gostado muito, imaginando que o autor, Mario Puzo, havia tido acesso à sociedade secreta. Bill achara o personagem central do livro, Don Vito Corleone, uma figura verossímil, e imaginou se o nome havia sido inspirado em "Don Vito" Genovese e na cidade de Corleone, que era no interior do oeste da Sicília e a sudoeste de Castellamare. Bill acreditava que seu pai possuía muitas das qualidades discretamente sofisticadas que o autor tinha atribuído a Don Corleone, e ainda havia elementos do personagem que faziam Bill lembrar do falecido Thomas Lucchese. Lucchese, na vida real, como Don Vito Corleone no romance, tinha amigos influentes nos círculos políticos dos Democratas em Nova York durante os anos 1950, homens que teriam feito favores especiais em troca de generosas contribuições políticas (...).

    Os sicilianos descritos em "O Poderoso Chefão" - não apenas Don Vito Corleone e seu filho Michael, que fizera faculdade (e com quem Bill se identificava), mas também outros personagens - eram dotados de quantidades impressionantes de coragem e honra, características que Bill estava convencido de estarem se deteriorando rapidamente na irmandade. O romance se passava nos anos imediatamente posteriores à II Guerra Mundial, e naqueles anos a Máfia era provavelmente como o autor a descrevera; e, conforme Bill continuava a ler o livro, ele se tornava nostálgico por um período que ele pessoalmente nunca conhecera.

No "Chefão", em certo ponto, Puzo descreve um dos negócios da família Corleone: pirataria de discos, já nos anos 40. No livro, o consigliere Tom Hagen explica que a idéia de Don Vito era basicamente ferrar seu afilhado Johnny Fontane, um cantor de grande sucesso e que vendia muitos milhares de discos. A pirataria tirava dinheiro do bolso do afilhado. Como queria Don Vito, porque quem mandou Fontane deixar a mulher? Mais tarde, logo depois de o cantor aparecer no casamento de Connie Corleone, Don Vito cancelou o negócio.

O personagem de Fontane é claramente inspirado em Frank Sinatra - pela carreira descrita, pela época de auge e pela ligação com a Máfia. Sinatra, pelo que se afirma com base em documentos da época, era ligado a um gângster paternalista chamado Willie Moretti.

Em 1943, assim como Michael Corleone conta ter ocorrido com Johnny Fontane, Sinatra tentou quebrar seu contrato com o conjunto no qual tocava, e não conseguiu. Moretti fez uma oferta que o líder do conjunto não podia recusar, enfiando o bocal de um trombone na boca dele, e obteve a rescisão do contrato de Sinatra/Fontane por um dólar. Mas o produtor de cinema Harry Cohn, que quase se recusou a colocar Sinatra em um filme, nunca acordou com uma cabeça de cavalo em sua cama.

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