quinta-feira, 3 de abril de 2008

O negócio do presidente é não prestar

Vem da insuspeita Agência Brasil, do governo federal, esta notícia sobre as razões do presidente pra vetar a prestação de contas dos sindicatos ao Tribunal de Contas da União:

    "Se nós não tomássemos o cuidado de vetar a fiscalização, eu já fico sabendo em cima de quem e em que momento iria a fiscalização. Imagina se a cada vez que chegar uma eleição, uma campanha eleitoral no sindicato, alguém toma a decisão de fiscalizar, quanto nós estaremos tirando do trabalhador o direito de propor em assembléias mecanismo de fiscalização", argumentou Lula.

Peraí. Peraí. Peraí. Isso é uma lógica perigosa. Perigosíssima. Então, prestar ou não contas é uma questão de conveniência eleitoral?

Extrapolando essa lógica, só falta o presidente dizer que o governo federal também não deveria prestar contas do que gasta, porque a oposição poderia ter acesso e usar o que encontrasse para fins eleitorais. Na verdade, governistas já chegaram bem perto de declarar algo assim, como se vê na controvérsia sobre os cartões corporativos. Os ministros mais próximos ao Excelentíssimo fizeram coisa semelhante ao adotar a estratégia Joe Quesada pra justificar os sigilos dos gastos do presidente.

Martelo de novo a tecla em que eu sempre bato: quanto mais transparência, menos dossiês. Se qualquer cidadão tiver acesso às prestações de contas, não há espaço pra chantagem política. A insistência no sigilo só alimenta a lógica da guerrinha de dossiês no jogo de salão entre governo e oposição. Ou entre situação e oposição nos sindicatos, que seja.

Algum parlamentar de bom senso deveria ir à Justiça para cobrar explicações do presidente sobre a declaração. Mas, como Saci Pererê e Papai Noel não se elegeram, dificilmente isso vai acontecer. Porque essa lógica da opacidade garante a diversão de governistas e opositores às custas do nosso dinheiro.

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