Os sindicatos de jornalistas não cansam de me surpreender. Agora, inventaram o DEBATE A FAVOR, como se pode ver na nota do Coletiva.net de que reproduzo um trecho abaixo:
- JORNALISMO | Terça-feira, 12 de Agosto de 2008 | 09:48
Feevale realiza debate a favor do diploma de jornalista
Nesta quarta-feira, 13, às 19h30, a Feevale realizará um debate a favor do diploma de jornalista, com a presença do presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, José Nunes. No auditório do prédio Branco, no Campus II da Feevale (RS-239, 2755, Novo Hamburgo), o encontro é aberto aos alunos de todos os cursos da instituição e também à comunidade externa interessada. O evento está sendo organizado pelo representante do curso de Jornalismo da Feevale, Humberto Ivan Keske, e pela professora Neusa Ribeiro
Segundo Nunes, o Sindicato está realizando uma mobilização junto às universidades, centros universitários e faculdades, buscando o apoio dos reitores, para que a lei não seja aprovada. "O apoio das universidades é extremamente importante, porque , se essa medida for aprovada, com o tempo, vai reduzir e muito o número de alunos interessados pelo curso", destaca.
Assim não dá. Ou é debate, ou é a favor. Se vai apenas abrigar opiniões a favor, pode ser chamado de manifestação, apologia, discurso, homenagem, defesa, desagravo. Mas debate não é, porque debate pressupõe outro lado.
Basicamente, isso reforça o que o Maurício Tuffani escreveu no artigo "Os defensores do diploma e seus debates imaginários", publicado no blog Laudas Críticas:
- As entidades defensoras da exigência de graduação superior em jornalismo para o exercício dessa profissão podem comemorar uma importante vitória: conseguiram evitar um efetivo debate público sobre esse tema polêmico ao longo de quase sete anos passados desde que o Ministério Público Federal em São Paulo ingressou com a Ação Civil Pública contra essa obrigatoriedade, que é vigente no Brasil desde a edição do Decreto-lei nº 972, de 17/10/1969.
Das instituições ligadas ao jornalismo no Brasil, as principais defensoras desse requisito são sindicatos, escolas superiores e associações de professores e pesquisadores. Retomando sua prática contumaz nestes quase sete anos, elas decidiram proceder à tática da pressão junto ao Judiciário, sem ter esboçado o menor esforço para discutir publicamente o assunto. (...)
No que diz respeito à Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas) e aos sindicatos a ela associados, seria ingenuidade esperar que eles promovessem uma ampla discussão sobre o tema. No entanto, apesar de a pesquisa ser parte das atribuições de professores e pesquisadores de jornalismo e de suas entidades, estes não responderam praticamente nada às questões de fundo levantadas contra a obrigatoriedade do diploma desde 2001. Em vez de contestações diretas a argumentos pontuais contrários a essa exigência, suas “contribuições ao debate” recorreram sistematicamente à evasiva e surrada tática de refutar questionamentos genéricos ou imaginários.
Desse modo, nenhum antagonista é citado nominalmente, assim como nenhum documento com tese contrária é mencionado, seja em pronunciamentos de dirigentes, em ofícios de diretorias de entidades e até mesmo em artigos assinados por pesquisadores. Não é por menos que essas manifestações estão disponíveis na página de notícias do site da Fenaj, que prima por sua alergia a opiniões contrárias.
Mais ainda. O sindicalista fala mesmo que o debate a favor é "para que a lei não seja aprovada"? Que lei? O que está em questão hoje é o fato de o STF levar a julgamento neste semestre uma ação que questiona a obrigatoriedade do diploma de jornalismo, criada pela ditadura militar em 1969.
O sindicalista afirma que, se cair a obrigatoriedade, "vai reduzir e muito o número de alunos interessados pelo curso". Bom, aí entramos numa seara interessante, que rende um ótimo debate (contra e a favor, por favor). Há uma profusão de cursos de jornalismo no Brasil. Boa parte deles é de baixa qualidade. Parte deles, de baixíssima qualidade. Esses cursos se mantêm por causa da obrigatoriedade do diploma. Existe demanda garantida, cria-se oferta.
Aí, lembro o que mestre Philip Meyer disse em entrevista que fiz com ele em 1999:
- "O primeiro problema para o jornalismo de precisão no Brasil será superar um sistema muito rígido que é feito para resistir à inovação. A maior barreira que vejo, de minha perspectiva norte-americana, é a lei que exige que os jornalistas sejam formados em escolas de jornalismo. Essa lei dá às escolas um mercado garantido e as priva do incentivo de fazer melhor as coisas. Sem a lei, as escolas teriam que visivelmente adicionar valor às habilidades existentes de seus estudantes para que pudessem sobreviver. Uma escola profissional deve ser a fonte da inovação e do desenvolvimento para a profissão a que serve. Mas, com um mercado cativo, não há necessidade de que ela faça nada além de assinar certificados de conclusão."
Mas, é claro, um sindicalista diria que tal posição é selvagemente capitalista.
8 comentários:
Já ouvi de alguns alunos da USP sobre o baixo nível da qualidade do curso da USP. Lembro de passar um bom tempo discutindo com uma aluna formada, que estava se mudando para Europa, com seu marido polaco, sobre o curso dela. Foram inumerados diversos problemas - ela poderia ao menos ter deixado essa lista para todos lerem, antes de partir; seria uma boa contribuicão de alguém que entrou na faculdade querendo "mudar o mundo". Não entendo por que críticas (construtivas) aos cursos de jornalismo ficam apenas no boca-a-boca (ou eu que estou procurando mal?).
E essa idolatria ao diploma ocorre no Brasil em diversas áreas. É a velha cultura brasileira que não prioriza a competência, mas sim o que está escrito num pedaco de papel. :-(
Olhe...Vim aqui por indicação do Tuffani que está morrendo de rir com o tema do assunto: debate a favor.Passo a fazer o mesmo diante da 'seriedade" da coisa.
Mas é fácil de consertar.Tuffani, que é catedrático no assunto e com opinião inversa, pode melhorar (ou esquentar)a discussão, que já vai longe,e propor um debate contra, usando dos mesmos princípios dos "a favor".
A preocupação dessa gente já virou possessão.Isso é encosto dos brabos, caramba.
Gostaria de saber o que eles fariam se dessem uma olhada nas opiniões que o Tuffani juntou na seguinte página de seu blog
http://laudascriticas.wordpress.com/dossie-diploma-de-jornalismo-e-cfj/
Um debate contra, hauhauauhauauhuaahauh, seria muito bom! hauahuahuauahhahuahahauha
Vocês tem que organizar, mesmo! :-)
Apesar que para cientistas seria bom se só quem tivesse diploma pudesse "atuar como jornalista". Alguns deles poderiam montar blogs e ficar brincando de catar falácias em matérias de "divulgacão científica" que vemos nos grandes jonais brasileiros.
Ainda quero escrever um texto sobre o tal "pesquisa dizem que..." que tanto vemos nos jornais. rs
Marcelão, isso é pra você ver o nível da "tigrada"! Eu gargalhei aqui sozinho! Pelo menos são sinceros: o fim da exigência do diploma vai acabar com os cursos picaretas - a grande maioria. Estava ontem mesmo conversando com o mestre Schuch sobre isso. Quem mais esperneia com o risco do fim da exigência do diploma? Sindicalistas, professores de jornalismo e muitos coleguinhas - principalmente os esquerdistas. Eu sou a favor: quanto menos regulação, tanto melhor. Dia desses comentei com colegas que no Canadá a exigência mínima para contratação é ter o segundo grau (ensino médio). A seleção é feita pelo mercado. A empresa sabe qual o profissional mais indicado para ela. Daí, aparece um cara com mestrado e outro só com o high school, e ela decide. Mas isso é inconcebível para a nossa cabeça cartorial. E não me consta que a imprensa canadense seja pior do que a nossa tupiniquim. Na minha opinião, essa é uma questão que tem a ver com interesses pessoais e/ou corporativos: sindicalistas e professores precisam preservar a reserva de mercado. Sindicalista virou profissão, um ganha pão. Então, se de repente a coisa desanda, os caras vão ter que voltar a trabalhar - assim como a maioria dos professores burocratas. Outro argumento que cai por terra é a do aviltamento do mercado. Que mercado? O de jornalista já está "aviltado" no país inteiro. Até parece que diploma garante salário decente. Uma piada, isso tudo.
abraço e muito obrigado por me proporcionar umas gargalhadas nesta sexta-feira cinzenta.
Marcelo,
talvez não nova para você, mas uma boa notícia, apesar de tardia ou poder ser irrelevante dependendo do que se decida no STF
MEC estuda autorizar outros diplomados a exercer o jornalismo
"Proposta de Haddad é permitir que qualquer profissional com formação superior também possa trabalhar na área"
E um comentário do Alexandre Abdo, no sentido do que falei acima
"Sobre o assunto, os jornalistas poderiam especializar-se na verificação e organização de informações, e esquecer essa história de produção de conteúdo (com a nobre excessão de correspondentes de guerra e outras situações extremas).
Já dispomos de tecnologia para que veículos de informação construam até suas pautas através dos usuários, e tornam-se mais legítimos os que se aproveitam disso.
As faculdades de jornalismo deveriam unir-se às de biblioteconomia e formar um curso único de "gestão e comunicação de informação e conhecimento"
Num mundo onde crescentemente indivíduos comunicam-se autônomos e irrestritos e todo o conhecimento da humanidade cabe no bolso, o jornalismo faria bem em reinventar-se dentro dessa nova lógica. Faria bem, sobretudo, a si mesmo."
Esse tópico entre físicos e um jornalista no orkut, também poderá interessá-lo
* Física e Sociedade
Abraço,
Tom
Marcelo,
acho que essa aqui é a maior pérola que li sobre o assunto:
"Me irritou seu texo pois o senhor recebeu bolsa do governo brasileiro (como consta no seu site) para ser um bom Físico e atua em outro setor (duble de jornalista) como esta no seu site… no final vc lesou a faculdade de fisica, que gastou dinheiro e tempo e o que recebeu de retorno…."
*ROTFLMAO*
David Morton se referindo a um mestre em física que escreve textos para divulgação científica, no post de uma jornalista Sim à obrigatoriedade do diploma de jornalista!.
Funny! :-)
O povo não é fácil.
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