
O governo adora a lógica de torcida.
Hoje, o ministro José Múcio Monteiro disse, ao comentar as críticas ao aumento da popularidade do presidente Lula:
- "Lamento esse recorde de popularidade por alguns que ficaram decepcionados. Porque são pessoas que torcem contra o Brasil em questões políticas."
Eu sinceramente não entendo como raios quem não gosta da popularidade do Lula "torce contra o Brasil". O Brasil é ele, por acaso? Não é mais permitido discordar das políticas dele, por acaso? E quando eles torciam contra o governo anterior, com toda a legitimidade de quem está na oposição, torciam contra o Brasil? O Estado é o Lula?
Ainda neste final de semana, fomos informados pelo ministro Franklin Martins de que "Quem torce contra a Petrobrás torce contra o Brasil". O Estado é a Petrobras?
Um adolescente que acaba de pensar em passar das páginas de esporte às de política dos jornais pode até estranhar. Coitado do Dunga: não consegue nem pôr na linha o time da Seleção, imagina controlar também a economia e a política pra não desagradar à torcida do Brasil.
Não entro em lógica de torcida nem contra e nem a favor de nada. Mais do que reconhecer a falta de lógica na lógica de torcida, ela me preocupa. Lógica de torcida não aceita nada além de alinhamento absoluto. É o "até a pé nós iremos" do Grêmio e o "louco por ti, Corinthians" - e haja bolhas no pé e vagas no hospício. A lógica da torcida exige o alinhamento até mesmo contra as evidências.
Ao exigir o alinhamento absoluto, a lógica de torcida exige necessariamente um inimigo. E leva a agressões, como se vê na porta dos estádios. Mais irracional que isso, talvez, só as manifestações mais extremistas das religiões.
Essa lógica lembra a definição de Orwell sobre o que é nacionalismo: "o hábito de supor que os seres humanos podem ser classificados como insetos e que blocos inteiros de milhões ou dezenas de milhões de pessoas podem ser consistentemente etiquetados como 'bons' ou 'ruins'."
Chega de aplicar a lógica de torcida a coisas sérias. Lugar de torcer é no estádio, não no palácio.
Até porque, como bem sabe a torcida do Corinthians do coração do presidente, torcida nenhuma evita rebaixamento.
"Ilícito - O ataque da pirataria, da lavagem de dinheiro e do tráfico à economia global"
"McMáfia - Crime Sem Fronteiras"
"Ensaios Céticos"
"O Operador - Como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT"
"A Ética da Malandragem"
"The War Within"
"Morte e Vida de Grandes Cidades"
"Freakonomics"
"A História do Mundo em 6 Copos"
"Devagar"
"Raising Sand"
"The Complete Recordings"
"The London Sessions"
"Kind of Blue"
"Kind of Blue - A história da obra-prima de Miles Davis"
"A Love Supreme"
"A Love Supreme - A criação do álbum clássico de John Coltrane"
2 comentários:
Excelente análise. E o pior de tudo é que os que enxergam isso, este maniqueísmo mentiroso, são poucos. Ou será que todos vêem o mesmo e se calam? Como aceitar como normal esta condução política na qual constantemente somos chamados de idiotas? É muito para meu sábado.
Parabéns pela análise. Vou recomendar ao pessoal do www.blogdemocrata.com.br para que eles incluam lá nesta segunda-feira.Vale a pena ler este blog. É muito bem escrito. Obrigada.
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