quinta-feira, 6 de março de 2008

Contra a lógica do Gre-Nal

Pedro Dória, em seu blog, discorre sobre a série de fatores que torna todo hooligan político da internet um bobo alegre, atualmente. E termina assim:

    "Não é difícil ter problemas com Uribe e com Chávez ao mesmo tempo. Basta não achar que qualquer ilegalidade é justificada para combater o outro lado."

Disse tudo. Eu inclusive lascaria um Bertrand Russell junto:

    É triste constatar na nossa época, e talvez como resultado das catástrofes internacionais do século XX, que a maioria dos homens não tenha mais coragem de viver sem um rígido credo político.

Vá lá - os que vivem com um credo político rígido o suficiente pra transformar política em Gre-Nal são hoje uma minoria, que se diverte em polarizar. Mas que minoria bem chatinha, vamos combinar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, antes de mais nada, sou um grande admirador do seu trabalho. Já postei um ou outro comentário aqui, mas volto a escrever para agredecer-lhe por suas muitas e tão claras contribuições de pensamento e reflexão, fundamentais para um jovem estudante de Jornalismo como eu e tantos outros. Visitei (sugestão sua) o site Repórter, dos alunos de Jornalismo da UFRGS, e descobri seu artigo intitulado "Algumas dicas de um colega mais velho". Estou repassando este artigo para meus colegas da PUC-Rio. Ali há grandes mestres, mas raros são os que falam conosco neste tom, com esta simplicidade. Criei, nos meus Favoritos, uma pasta com todos os sites de pesquisa e informações sugeridos neste blog, e os visito regularmente. Enfim, queria apenas estender-lhe a mão e dizer obrigado pelo grande profissional que você é.
Um abraço do Caio Barretto

Marcelo disse...

Poxa. Ganhei o dia!!!! Valeu!

Conheci a PUC-Rio em 2005, no primeiro congresso da Abraji. Meu sonho de consumo era que meu canto de trabalho tivesse aquela vista da sala dos professores.

Paulo Henrique disse...

Marcelo, licença para discordar. Clima de Gre-Nal? Pode até ser, mas é difícil não tomar partido nesta arenga toda. E mais: a omissão pode custar caro ao subcontinente. Fazer de conta que a democracia não corre risco na Venezuela pode custar a desestruturação daquele país. Na década de 30, o fazer de conta que as coisas não estavam acontecendo e completa omissão custou muito caro ao mundo todo. Então não houve clima de Gre-Nal no fim da primeira metade do século passado? Só quando se instalou o clima de gre-nal é que a situação passou a ser revertida. Os fascínoras de um lado, e os defensores de um mundo livre, de outro. Há horas em que, infelizmente, precisa ser assim. Ou vamos deixar o falastrão tomar conta da região?
abraço

Marcelo disse...

PH, o que eu acho, resumindo bem, é que não tem herói nenhum na história. O problema do jogo da polarização é que ele identifica bandidos e exige heróis. Cria a lógica de "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Isso corre o risco de cegar. Eu, pessoalmente, não vejo absolutamente nenhum herói na questão - e é disso que o Pedro Doria fala. Aliás, fora dos gibis, não vejo heróis em lugar nenhum.

O reproche ao Chávez é muito justo. Mas ele não é o único que faz fora do penico. Da forma como a coisa vai, acaba descambando sempre, e facilmente, pro ad-hominem. Você vê isso nas caixas de comentários. Vira um esgrima de adjetivos, quando há muito chão firme no plano do substantivo.

Acho que não cabe torcida, porque a lógica de torcida impõe menos cabeça fria do que o necessário. Sem falar que me parece ser justamente o Gre-Nal que alimenta o Chávez e dá a ele coragem de fazer as coisas que faz. Tipo "Não gostam? Então vou afrontar." Qualquer um que tenha passado parte da infância no pátio da escola conhece o tipo. A única diferença é que a brincadeira é séria.

Deve haver outros jeitos de lidar com a questão. Mas imagino que eles só serão encontrados com uma cabeça mais fria que a dele. Quando eu penso no Chávez, lembro de uma frase que circula na internet, que diz que trolls puxam os outros para o nível deles e acabam ganhando a briga por ter mais experiência. Acho que o problema é mais ou menos por aí.

Ele não merece a deferência de descerem ao nível dele. Da minha parte, pelo menos, não.