quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Os gaúchos e a política


Peguei no Nova Corja um resumo muito resumido de uma pesquisa encomendada pela Assembléia Legislativa do RS sobre como o povo autoconsiderado o mais politizado do Brasil vê a política. O PDF linkado no site da Zero Hora tem apenas pinceladas nos resultados. Pessoalmente, eu queria ler os resultados inteiros. Podem ser reveladores.

Menos de um em cada 5 gaúchos confia na imprensa (17,6%), o que explica muito o ataque ao Graciliano há duas semanas. No Brasil, o índice de confiança na imprensa medido no Barômetro da AMB é de quase 3 em cada 5 (58%). O índice gaúcho é um terço disso, por mais que seja temerário comparar pesquisas de metodologia diferente.

Essa diferença diz muito a respeito da qualidade da imprensa de lá, embora certamente os gaúchos --eu sou sueco-- certamente prefiram achar que é por causa do nível de educação do berço de Flores da Cunha e de Borges de Medeiros, terra de Getúlio Vargas, presidente brasileiro. Ainda ontem, a Zero Hora inventou novas regras para o campeonato sul-americano de futebol, regras essas prontamente desmentidas pela Conmebol. Se o povo come bola até nas páginas de gre-nal, que são a especialidade informativa daquelas plagas, é compreensível um índice tão baixo de consideração à imprensa.

Menos de um em cada 4 gaúchos vê necessidade de maior fiscalização dos poderes eleitos (22,5%). Isso me lembra bastante o comentário que recebi no blog do Deu no Jornal, em 2006, quando cutuquei a falta de acessos ao Excelências no RS. Um cavalheiro disse que lá o povo é tão politizado que não precisa ter acesso a informações sobre o que seus deputados fazem. Na época, observei: "politização" sem informação não passa de torcida.

Possivelmente por conta desse déficit de informação, desse analfabetismo funcional institucionalizado, mais de um em cada 4 gaúchos acha que o RS é mais desenvolvido que o resto do Brasil (25,5%).

Mais da metade dos eleitores não lembra mais em quem votou pra deputado estadual em 2006 (51,9%). Em conseqüência, quase a totalidade dos consultados não sabe dizer o que o Parlamento votou de importante (95,2%). Se bem que isso também pode refletir um acompanhamento constante da Assembléia gaúcha. Duvido que o pessoal que acompanha também saiba dizer o que lá foi votado de importante.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sou daqueles gaúchos que se acham melhores em tudo e nem nunca vesti uma bombacha, mas acho que tu tá pesando a mão um pouquinho em relação ao povo do RS. Veja bem:
Tu achas o indice de confiança na imprensa dos gaúchos baixo? eu entendi como um bom sinal. Se no resto do país é 58% (respeitadas diferenças metodológica), isso sim é preocupante, afinal de contas a Revista Veja (só pra dar um exemplo) é de alcance nacional.
Os índices de lembrança em quem votou e de projetos aprovados devem ser semelhantes ao resto do país, não?
Quanto a questão futebolísticas vou esperar até o dia 25 de novembro pra me manifestar. Dos dirigentes do futebol tudo se pode esperar.

Marcelo disse...

Eu fiz uma ressalva sobre a qualidade da imprensa daí (sofrível, demasiado sofrível). Da Veja nem se fala, e certamente a qualidade de todos os meios de comunicação brasileiros caiu muito desde o meu tempo de faculdade. A questão é que, fora aí, só em lugares mais próximos à fronteira com o Paraguai ou no meião do Nordeste é que ouço falar de jornalistas serem agredidos por conta de reportagens críticas...

Não achei onde comparar o dado sobre lembrança, mas concordo que é deve ser semelhante. De qualquer forma, a impressão que me fica é que no RS não se tem a cultura de trabalhar com informação. Adoraria estar errado; se estivesse, porém, não precisaria ter saído daí para fazer o que faço. A distância acaba dando mais perspectiva.