A mais nova operação de nome criativo da Polícia Federal, a Castelo de Areia, investiga entre outras coisas a possibilidade de a construtora Camargo Corrêa ter doado ilegalmente recursos para políticos de 7 partidos na campanha de 2006.
No caixa-um, várias subsidiárias da empresa fizeram doações legais para políticos de 11 partidos. A princípio, não há nada de errado com essas doações. São doações feitas legalmente e registradas na Justiça Eleitoral. Até o Lula e o Serra receberam da empresa no caixa-um. Checa só:
Camargo Correa Equipamentos Sistemas (R$ 491.000,00)
Camargo Correia Cimentos (R$ 1.550.000,00)
Camargo Correa Metais (R$ 50.000,00)
Construções e Comércio Camargo Correa (R$ 7.313.500,00)
Mas aí vem o fato político. Vários dos nossos caros representantes saíram brandindo recibos eleitorais pra provar que as doações foram legais: Agripino Maia e Flexa Ribeiro foram dois deles. Isso aí é uma cortina de fumaça do tipo que eles adoram.
A questão é que são dois assuntos diferentes. As doações de que eles estão falando, cujos recibos eles podem brandir pras câmeras da TV Senado, são as do caixa-um. As que a PF diz ter encontrado são as de caixa-dois. Essas necessariamente NÃO SÃO registradas na Justiça Eleitoral. Se eles não receberam essas, não precisam se justificar. Se correm com tanta voracidade é porque aparentemente o chapéu serviu.
Minha aposta? Como uma empresa desse tamanho acende uma vela pra cada santo, e como os santos da política não são santos, ou veremos uma operação abafa ou uma grande briga de bugio. Esclarecimento? Bom, o caso do Mensalão estourou há quatro anos e deve continuar em juízo por mais um bom tempo. O Brasil ainda é o país do "nada ficou provado", na feliz expressão do Fernando Rodrigues.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Castelos de areia e cortinas de fumaça
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Marcelo
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Marcadores: casa do entendimento, cultura política
O Senado precisa é de um choque de transparência
Vira e mexe, rola algum escândalo com funcionários do Legislativo. Ora eles iam trabalhar no Congresso por indicação de sanguessugas, ora são terceirizados que vendem fitas, ora são diretorias excessivas cujo número a Mesa Diretora não faz a mínima questão de esclarecer.
Tem um jeito fácil de evitar escândalos com a composição do funcionariado de qualquer casa legislativa: publicar na internet a lista completa e atualizada dos funcionários, de preferência com cargos, lotação, função e gratificação. Salário, talvez.
Não é nada revolucionário e nem mania de fã da Suécia. O Executivo tem um site que faz mais ou menos isso, o Siorg. Por exemplo, aqui você pode consultar a árvore da hierarquia. Se for lá na Casa Civil, dá pra ver todos os assessores especiais lá lotados, com seu respectivo DAS. Esse código indica a faixa de salário do servidor, que é definida em lei. Assim, você pode saber onde o Fulano trabalha e fuçar quanto ele ganha e checar a quem ele responde. O Siorg também tem uma busca pra você procurar pelo nome do servidor. Mas ele só pega o Executivo.
O que me espanta é que o Senado gasta uma fábula de dinheiro por ano -- são R$ 87 por segundo, pelo orçamento de 2009 -- e não presta sequer serviços de informação estruturada eficientes. Isso sim me parece desperdício de dinheiro público. OK: ele tem um site, uma TV e um jornal (que, aliás, eu recebo). Mas, tirando a sempre genial consulta às atas de CPIs e movimentações de projetos de lei no site, tudo isso acaba se prestando mais a envernizar a vaidade de suas excelências.
Aliás, alguém mais ouviu falar em como ficou a questão da prestação de contas nota por nota das verbas indenizatórias depois desse escândalo todo? Pois é.
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Marcadores: cultura política, sociedade da informação
Why so funny?
Hoje eu vi um negócio que me deu até uma ponta de medo.
Eu tava passando pela rua São Luiz, no centro de São Paulo, pra gravar meu comentário de hoje pra MTV. Aí passa na frente da van um sujeito carregando um carrinho cheio de caixas de papel pra xerox.
Tinha um negócio engraçado no cabelo dele: meio sujo, meio verde. Aí ele olha pra janela: o desgramado tinha pintado a cara que nem o Coringa do filme. Igualzinho.
Lembrei direto de notícias que li recentemente.
Em janeiro, na Bélgica, um ano e um dia após a morte do ator Heath Ledger, um cara vestido de Coringa matou dois bebês e uma babá numa creche. Semana retrasada, nos Estados Unidos, um militar vestido de Coringa, acusado pelo assassinato de um colega, apontou uma arma para dois policiais num parque nacional e foi morto pela polícia.
Aí me aparece esse entregador vestido de Coringa no centrão de São Paulo. Pode ser que ele não vá matar ninguém, mas de qualquer forma andar por aí com o rosto e o cabelo pintados de Coringa, de graça, é um mico BEM maior do que sair na rua com uma camiseta do Batman (como eu mesmo saio às vezes). Eu diria que é quase equivalente a sair de cueca na rua.
OK, a caracterização do ator é genial mesmo. Bizarra na medida certa, sem ser um palhaço canastrão. Mas tem mais coisa aí, tem um elemento que não me parece usual: o que tem nesse Coringa do Heath Ledger que faz um cidadão pagar esse tipo de mico?
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Marcelo
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Marcadores: mundo cão, mundo velho sem porteira, sociedade do espetáculo
domingo, 22 de março de 2009
Love is all
Em 1975, quando o Deep Purple estava em sua fase terminal, o então ex-baixista do grupo Roger Glover pegou um livro infantil, sobre um baile dos bichos na floresta, e compôs um musical. Chamou os melhores roqueiros da Inglaterra, entre eles vários ex-membros do Deep Purple, pra cantar e tocar. O resultado foi um dos melhores shows que eu já assisti, infelizmente entremeado com partes "artísticas" inexplicáveis.
A performance final da música principal do show tem clima de churrascão dos amigos:
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Marcelo
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sexta-feira, 20 de março de 2009
O Senado é um Fusca com preço de Ferrari
A Folha de S.Paulo publica a lista dos 50 diretores do Senado que perderam os benefícios depois que ficou feio. A economia com isso, de R$ 400 mil ao mês, equivale a R$ 4,8 milhões em um ano. E ainda é pouco. Ainda tem 131 diretores, e eu duvido que precise tanto. Se duvidar, deve ter diretor até encarregado da coordenação dos ascensoristas ou da troca dos rolos de papel higiênico no banheiro.
O orçamento do Senado é fabuloso: em 2007, era de R$ 2,6 bilhões. Proporcionalmente pela quantidade de membros, era mais suntuoso que o dos Estados Unidos (leia aqui o estudo que coordenei na Transparência Brasil na época). Neste ano, o orçamento é de R$ 2,8 bilhões. A maior parte dele, R$ 2,3 bilhões, vai para a folha de pagamento, segundo o Contas Abertas.
Em 2007, pouco antes de eu deixar a Transparência Brasil, propus ao diretor da entidade uma comparação que até hoje me orgulha: "Um Senado de Fuscas ao preço de Ferraris". Na época, o escândalo da vez era outro - e seu personagem principal já voltou a ser considerado um nobre líder partidário, um corretor de poder nessa briga toda. But I digress. O artigo dele a respeito dizia o seguinte:
- Imagine o eventual leitor que adquira um Porsche. Suponha que a assistência técnica passe mais de um mês se esquivando de verificar se o ruído estranho que se ouve no motor é sinal de algo grave. Perante tal comportamento, o leitor possivelmente recorrerá aos órgãos de defesa do consumidor.
Já quando se trata da vida política, o eleitor não conta com tal possibilidade. Não raro, o "produto" que seu voto engendrou se comporta como um Fusca 1955 com motor fundido. É assim, como um ferro-velho, que o Senado Federal vem se comportando no episódio Renan Calheiros. O pior é que estamos pagando preços de Ferrari pelos Fuscas, Gordinis e Simcas que em grande proporção habitam aquela Casa.
Levantamento recente da Transparência Brasil demonstra que o Senado é a Casa legislativa mais cara por membro entre 12 países pesquisados: a manutenção do Senado custa R$ 33,1 milhões por mandato de seus 81 integrantes. Esse dinheiro não vai todo diretamente para cada senador, mas paga uma estrutura que inclui funcionários, gráfica, TV, rádio, jornal e outros serviços basicamente voltados para a autopromoção de senadores.
Isso dá mais do que o dobro do que os Estados Unidos gastam por mandato parlamentar federal. Ao todo, o Senado brasileiro custa quase o dobro do orçamento previsto neste ano para as duas Casas do parlamento britânico, mesmo com todas as diferenças de riqueza entre o Brasil e o Reino Unido.
Embora custe mais caro que todos os parlamentos do Primeiro Mundo, talvez os serviços que as Casas legislativas brasileiras prestam sejam equivalentemente mais substanciais e relevantes. Talvez os R$ 33 milhões que pagamos por mandato senatorial valham a pena e recebamos de volta um desempenho espetacularmente notável. Mas será mesmo?
A demora em investigar as suspeitas que recaem sobre o presidente da Casa, Renan Calheiros, e a renitência que este manifesta ao se manter na Presidência da Casa demonstram que o Senado brasileiro presta aos cidadãos brasileiros uma representação de quinto mundo. Certamente não é por falta de recursos financeiros que o Senado deixa acumular, sem averiguação, indícios de que o seu presidente esteve envolvido em práticas escusas.
A situação não melhorou muito desde então. Os Fuscas continuam saindo a preço de Ferrari.
Mas, na verdade, melhorou, sim. Em um sentido: desde aquele estudo, a gente sabe cada vez melhor o tamanho do prejuízo.
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quinta-feira, 19 de março de 2009
Culpe o diagramador
Sabe o livro de geografia que mostra dois paraguais falsificados, distribuído nas escolas públicas de São Paulo?
Pois é. Ontem, a culpa era de quem imprimiu. Agora, a culpa é de quem diagramou.
Um dia a culpa chega em quem, de posse da diagramação, aprovou a impressão. Ou ao superior desse cidadão. Mas eu duvido muito. No Brasil, ninguém nunca é responsabilizado por nada.
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16:29
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quarta-feira, 18 de março de 2009
Por que sai tão caro
O Senado é a Casa legislativa mais cara do Brasil, como a Transparência Brasil revelou pela primeira vez em 2007, em estudo que eu coordenei. Naquele ano, proporcionalmente, a manutenção da Casa custava mais de R$ 33 milhões por parlamentar.
Os escândalos recentes, incluindo a farta distribuição de passagens aéreas pela Roseana Sarney e a conta do celular da filha do Tião Vianna, têm como cereja do bolo uma singela correção que o Senado divulgou no final da tarde de hoje.
Pela manhã, dizia-se que a Casa tinha 136 diretores e que os representantes dos nossos estados cogitavam demitir metade deles.
À tarde, corrigiu-se o número impreciso. Na verdade, a Casa dispõe de 181 diretores.
Ou seja: eles não apenas têm mais diretores do que senadores (são 2,23 diretores por senador) como também sequer têm certeza de quantos diretores eles têm.
Não admira que saia tão caro manter nossos queridos senadores.
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20:45
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Marcadores: cultura política, dinheiro é vendaval, gente que não presta
A crise afetou a Bolsa...
...e a novidade é que agora a própria Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vai demitir 175 funcionários. A maior parte das demissões em massa detectadas no noticiário desde janeiro se concentra na cidade de São Paulo ou seu entorno. Vejam só o que é o mapa das demissões na cidade:
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Marcelo
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18:56
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Marcadores: dinheiro é vendaval
Capela Fashion Week
Ontem eu brinquei no Twitter com a Liana Pithan: o enterro do Clodovil iria lançar as novas tendências para a moda fúnebre outono-inverno.
Por mais que eu estivesse brincando, o jornalismo online nunca me decepciona. Da Folha Online:
- Terno claro, em tecido branco riscado com pequenos quadrados cinza, gravata borboleta azul e lenço do mesmo tom. É assim que o estilista, apresentador e deputado Clodovil Hernandes é velado nesta quarta-feira na Assembleia Legislativa de São Paulo.
A criação é do próprio estilista que, segundo assessores, desenhou o modelo durante o Carnaval deste ano.
"É a primeira vez que ele está usando", afirmou o assessor e amigo João Toledo, que acompanha o velório próximo ao corpo.
O caixão onde se encontra Clodovil está coberto por um véu e seu corpo é coberto por pétalas de flores até a altura da cintura; na mão, Clodovil segura um buquê de flores roxas, presente de uma amiga que também está no velório.
Nada contra. Legal a observação do repórter. Acho que daria um bom tempero numa matéria maior sobre o enterro e as questões políticas envolvidas (como a briga do presidente do PTC, partido pelo qual Clodovil se elegeu mas depois saiu, com a assessora do deputado). Mas uma matéria só sobre isso? Não sei.
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Marcelo
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terça-feira, 17 de março de 2009
A Casa do Entendimento
O senador Cristovam Buarque propôs hoje uma comissão para ver um jeito de como acabar com a desmoralização do Senado. "Hoje está difícil ser político. Eu nem falo de caixa dois para ganhar a eleição; eu falo pura e simplesmente do uso transparente, correto para levar adiante a missão", disse ele.
Bonito. Bonito. Mas, em se tratando de transparência, especialmente em tempos de casarão do Agaciel, não vai ser queimando 40 anos de documentos que o Senado vai conseguir isso. Eles queimaram 965 caixas de papéis acumulados entre 1965 e 2003. Os intestinos de boa parte da história do Senado, da ditadura ao primeiro ano do governo Lula, estavam ali.
O problema não é de imagem, senador Cristovam. É de modus operandi.
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Marcelo
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18:04
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