domingo, 26 de outubro de 2008

Faroeste gaúcho, ou Porto Alegre é (tosca) demais


A coisa está ficando pessoal.

Meu grande amigo Graciliano Rocha, que está em Porto Alegre como correspondente da Folha, é o mais novo ponto no mapa Faroeste Caboclo, que registra agressões e outros atentados possivelmente de motivação eleitoral.


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Ele foi agredido no comitê eleitoral por simpatizantes do José Fogaça quando ia cobrir uma entrevista coletiva (cancelada) do prefeito ora reeleito de Porto Alegre. Enquanto o poeta não falava, a birita rolava solta e de graça. Quando mestre Gra chegou, um cabo eleitoral o abordou dizendo que ele não era bem-vindo por causa de umas "matérias filhas da puta" que ele publicou no jornal paulista. Antes que ele respondesse, levou um soco no olho, foi derrubado no chão e afofado de pontapés. Meu amigo não reagiu, porque é grande e não é bobo.

Sim, Porto Alegre virou algo tipo Canapi, só que com prefeito poeta. Porto Alegre é demais.

Ele não conseguiu identificar o agressor, mas o comitê de campanha, oficialmente, teve a gentileza de telefonar pra ele explicando que ninguém lá tinha nada a ver com isso.

Eu li ao menos duas das "matérias filhas da puta" apontadas pelo militante. A mais recente mostrava que o prefeito distribuiu bônus-habitação em período eleitoral. Gerou um processo contra o prefeito, sob a acusação de compra de votos. Outra, de há um mês, mostrou que o coordenador da campanha de Fogaça, Luiz Fernando Záchia, era investigado pelo TCE pela compra de dois imóveis de luxo. Com isso, Záchia resolveu pedir o boné.

Matérias filhas da puta, claro. Como as denúncias eram documentadas, possivelmente até o nome do cliente constava da certidão de nascimento das filhas da puta.

Ao Diário Gaúcho (que classificou a agressão como "suposta" em título), o coordenador da campanha, Clóvis Magalhães (substituto de Záchia, o cavalheiro que pediu pra sair depois da matéria de setembro), deu a versão oficial:

    As questões implicadas devem ser pessoais e não da campanha. Eu lamento. O repórter deve tomar as medidas cabíveis.

(EDITADO: Mais tarde, por telefone, Magalhães me disse que, na hora em que foi entrevistado, não sabia do caso.)

Cerca de 50 pessoas assistiram à agressão. O comitê não identificou os agressores, até porque não tem câmeras externas. Claro, não que isso fosse esperado.

Findas as agressões, o poeta discursou aos seus apoiadores:

    "É isso que está, neste momento, sendo consagrado pelas urnas, um projeto que implantou na cidade um ciclo de mudanças, que plantou sementes para o futuro."

E sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra, já cantavam os outros.

4 comentários:

Sem Papel e Tinta disse...

Provincianismo puro.

Anônimo disse...

É reprovável a atitude, mas aposto que se o repórter falasse algo do pt e fosse no comitê da maria do rosário também não seria bem recebido.

Mesmo vale para situações envolvendo inter e gremio, as pessoas no rs são muito fanáticas, independente de partido, credo ou time de futebol.

Marcelo disse...

Anônimo, eu não duvido nem um pouco que seria a mesma porcaria se fosse com sinal trocado.

Meu problema é com a agressão a um jornalista por causa de uma reportagem que escreveu (pior: com a agressão a um amigo), não com o partido de onde ela veio. Estou me lixando para o partido de onde ela veio - considero todos os partidos igualmente merecedores de crítica -, mas o comportamento certamente fica mais grave se considerarmos que o político para o qual os agressores torcem já estava no poder. Concorda?

De resto, assino embaixo: o grande problema no RS é que o Gre-Nal é a medida de todas as coisas.

Volte sempre e assine a próxima.

Barone disse...

Gracialiano Rocha é um puta jornalista (portanto assina putas matérias). Conheço-o aqui de Campo Grande e admiro seu trabalho. Lamentável o ocorrido. Mas, são as cicatrizes da profissão. Não é a primeira e nem será a última que Graciliano carrega. Boa sorte por aí parceiro.